Como Proteger Seu Filho das Brigas? O Perigo da Alienação Parental no Dia a Dia.

Proteja seu filho da alienação parental. Crie um escudo de segurança emocional para evitar que as brigas do dia a dia afetem seu filho.

A tensão durante o jantar. Um suspiro de frustração que corta o silêncio. Aquela frase dita em voz baixa, mas carregada de raiva, que escapa no calor de uma discussão. Cenas como essas são mais comuns do que gostaríamos de admitir e, mesmo quando não são direcionadas às crianças, elas são colocadas no meio de uma batalha.

O problema central não é o fato de casais discordarem. Discordar é normal e desentendimentos fazem parte de qualquer relação. O problema é como esses conflitos acontecem na frente dos filhos. Quando as discussões se tornam constantes e cheias de acusações, a criança é colocada no centro de uma guerra da qual ela nunca deveria fazer parte.

É nesse terreno fértil que nasce uma forma sutil e perigosa de violência emocional: a Alienação Parental. 

Eu sei que você pode achar que alienação parental acontece apenas naqueles casos extremos que chegam à justiça e você pode até dizer para si que nunca faria isso com seu filho. 

Porém, a alienação mais comum é aquela que acontece em conta-gotas, no dia a dia, dentro de casa. Ela se disfarça em frases como: “Sua mãe é maluca”, “Deixa de ser preguiçosa! Você está parecendo a sua vó.” ou “Só estamos nessa situação por culpa do seu pai.”.

Essas palavras são como um veneno lento, uma tentativa, consciente ou não, de forçar a criança a escolher um lado, para aliviar o sentimento de culpa do adulto por toda aquela confusão. A culpa é sempre do outro e meu filho precisa saber disso.

Mas hoje vim aqui conversar um pouco sobre o impacto profundo que essas atitudes causam na cabecinha do seu filho?  E, mais importante, te oferecer estratégias práticas para construir um escudo de segurança emocional ao redor do seu filho e evitar a alienação parental.

O Que Acontece na Cabeça da Criança?

Quando uma criança testemunha a destruição da imagem de um de seus pais, um turbilhão de emoções se instala:

  • Conflito de Lealdade: a criança é 50% mãe e 50% pai. Por isso, atacar um dos genitores é, para ela, atacar uma parte de si mesma. Isso gera uma angústia e um conflito interno devastador: “Se o meu pai é um inútil, será que uma parte de mim também é?”. A criança se sente forçada a ser desleal a uma de suas metades para agradar a outra.
  • Insegurança e Medo: a base da segurança de uma criança é a estabilidade e o amor de seus pais. Quando esse alicerce é abalado por brigas e acusações, o mundo dela se torna um lugar assustador e imprevisível. O porto seguro vira uma tempestade, e ela se sente perdida e desprotegida. Se aquele que deveria me proteger, não é digno de confiança, quem será?
  • Sentimento de Culpa: crianças, especialmente as mais novas, tendem a se ver como o centro do universo. É natural que pensem que são a causa dos problemas ao redor. Elas podem facilmente internalizar a ideia de que, de alguma forma, são culpadas pelas brigas dos pais, carregando um fardo que não lhes pertence.
  • Sentimento de Injustiça: a criança nunca tem a visão do todo. Ela enxergará aquilo que está ao alcance dela. E por mais que o genitor que acusa “esteja certo”, a criança pode não enxergar o outro desta forma e começar a nutrir rancor por quem acusa e um sentimento de proteção em relação ao acusado. E pode passar a agir como um escudo, assumindo um papel que não lhe cabe.

Identificando as “Microagressões”: A Alienação que Mora nos Detalhes

Muitas vezes, a alienação parental não é um ato deliberado, mas um conjunto de comportamentos tóxicos que os pais reproduzem sem perceber. Faça uma autoavaliação sincera. Você já praticou alguma dessas “microagressões”?

  • Falar mal do outro genitor para a criança: O clássico ataque direto à imagem e ao caráter do outro.
  • Usar a criança como mensageira do caos: “Diga para sua mãe que ela precisa pagar a conta”. Isso a coloca no meio do fogo cruzado.
  • Fazer-se de vítima constante: “Olha o que seu pai fez comigo de novo…”. Essa atitude manipula a criança para que ela sinta pena e tome o seu partido.
  • Tratar o filho como confidente: Desabafar sobre problemas íntimos e financeiros do casal sobrecarrega a criança com responsabilidades de adulto.
  • Comparar a criança com o outro genitor de forma negativa: “Você é teimoso igualzinho à sua mãe!”. Isso associa uma característica da criança a um defeito do outro.

Estratégias Práticas: Criando um “Ambiente Sol” Mesmo na Tempestade

Proteger seu filho não significa fingir que os problemas não existem, mas sim gerenciá-los com maturidade e foco no bem-estar dele.

  1. Criança não é plateia. Este é o pacto mais importante. Entrem em acordo, mesmo que a relação esteja péssima, que discussões sérias acontecem longe dos ouvidos e olhos dos filhos. Se a briga começar a esquentar, que um dos dois tenha a presença de espírito para dizer: “Aqui não. Depois conversamos”.
  2. Ative o Filtro de Palavras. Antes de falar sobre o outro genitor para seu filho, respire fundo e se pergunte: “O que eu vou dizer vai ajudar meu filho a amar e respeitar o pai/a mãe dele mais ou menos?”. Sua missão é sempre preservar a imagem da função de PAI e MÃE, mesmo que a imagem de marido e mulher esteja desgastada.
  3. Valide o Sentimento, Não a Crítica. Se seu filho chegar repetindo uma crítica que ouviu do outro genitor, resista ao ímpeto de revidar. Foque em entender porque seu filho sentiu necessidade de compartilhar isso com você e em fazê-lo se sentir melhor com esta situação. Você pode dizer: “Às vezes os adultos falam coisas quando estão chateados. Mas isso não muda quem somos um para o outro! Entendo que ouvir isso pode te deixar confuso ou triste. Mas te amamos e continuamos sendo seus pais sempre juntos.” “Percebo você triste, mas o importante é saber que você pode sempre conversar comigo sobre o que você sente. Mesmo isso sendo difícil, podemos confiar um no outro, assim vamos construindo nosso jeito de estar bem!”

    Pontos importantes aqui: Não negar o que a criança ouviu, mas não entrar no lugar de revidar. Assim você pode deixar claro que o amor não está em disputa, que sua relação com ela é estável e que ela não precisa tomar partido e/ou levar recados.
  4. Proteja a Imagem do Outro. Eu sei. É difícil. Mas mesmo que doa, seja a pessoa que protege a figura do outro. Se a criança reclamar “Minha mãe é muito chata”, em vez de concordar, você pode dizer: “Entendi, parece que você está chateado com sua mãe agora, pois ela disse algo que você provavelmente não gostou! Mas o que ela faz por você é por amor a você e para te proteger!” Ou ainda uma pergunta: “O que aconteceu que te deixou com esse sentimento?” Você não estará mentindo, estará protegendo o bem mais precioso do seu filho: o direito de ter um pai e uma mãe.

O Amor pelo Filho como Ponto em Comum

O maior legado que pais – juntos, separados ou em processo de divórcio – podem deixar para um filho é o direito de amar ambos os genitores livremente, sem sentir culpa ou conflito. Isso se estende aos avós, tios e toda a família. Até àquela sogra que você não costuma concordar.

Mesmo que a relação do casal tenha chegado a um ponto difícil, o papel dos pais pode e deve ser uma parceria de sucesso, com um único foco: a felicidade e a saúde emocional da criança. Proteger seu filho das suas brigas é o maior e mais genuíno ato de amor que vocês podem oferecer neste momento.

Lembre-se: seu filho não precisa de pais perfeitos. Ele precisa de pais que o protejam e ofereçam estabilidade emocional. E isso começa pela forma como você escolhe se comunicar com ele.

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