Meu Filho Nunca Está Satisfeito: Como Resgatar o Valor do Desejo e de Tudo o que Temos

Parece que nada satisfaz seu filho? Entenda por que o cérebro infantil busca o "sempre mais" e como resgatar o valor do desejo e do cuidado.

É muito comum que os pais se preocupem quando percebem que seus filhos ´nunca estão safisfeitos`como o que tem ou recebem de presentes, passeios ou possibilidades em suas vivências diárias. Querem mais um brinquedo, mais um passeio, mais um doce, mais um estímulo, algo igual ao do amigo. Nada parece durar tempo suficiente para gerar gratidão ou contentamento.

Porém antes de entender esse comportamento como ´ingratidão`, vale compreendê-lo como parte do desenvolvimento infantil, bem como estar atento ao posicionamento dos pais ou responsáveis todas as vezes em que desejam que os filhos realizem algo, ou quando eles reivindicam, se as atitudes dos adultos reforçam esses sentimentos, e ainda de que forma essa questão é também um convite para resgatarmos o valor do desejo e o valor daquilo que os filhos já têm.

Por que a criança parece nunca se satisfazer?

O cérebro infantil está em pleno processo de expansão. A cada nova experiência, ele cria conexões, aprende, organiza o mundo e busca entender seus limites. O desejo, para uma criança, não é apenas querer algo: é explorar, testar, imaginar e encontrar sentido.

Além disso:

1 – O desejo infantil é imediato:

A criança sente certa vontade e busca atender àquela vontade no mesmo instante. Ela ainda não tem maturidade para diferenciar desejo de necessidade;

2 – A novidade ativa o sistema de recompensa: 

Brinquedos, telas, passeios e estímulos constantes podem gerar um ciclo de ´sempre mais`, porque a sensação de prazer vindo do novo é rápida, porém não duradoura;

3 – A frustração faz parte do crescimento, porém os adultos nem sempre sustentam:

Sem espaço para frustração, a criança não aprende  que o desejo pode esperar, e que a satisfação nem sempre acontece no ritmo que ela gostaria.

Resgatar o valor do desejo: o desejo que espera, cresce e amadurece

Na sociedade atual, o imediatismo tem sido uma constante. E, sem perceber, os adultos acabam acelerando o desejo das crianças e atendendo quase que imediatamente e incessantemente (por vezes devido a facilidade de compra). Quando tudo chega fácil e rápido, o desejo perde seu brilho, sua função e seu significado, pois o valor está justamente no intervalo entre, querer e conquistar.

Como resgatar o valor do desejo:

1 – Espere antes de atender:

Frases como : 

  • ´Vamos pensar se isso é mesmo importante;`
  • ´Você pode querer muito isso, e podemos conversar com calma e organizar como tornar isso possível;`

2 – Envolva a criança no processo:

Organizar a provisibilidade temporal, guardar dinheiro, aguardar a chegada de uma data especial, participar da escolha em coerência com a necessidade, pesquisar junto, fazer ponderações (adequadas à faixa etária), desapegar de algo que possa substituir, tudo isso transforma o objeto em experiência e cria vínculo e significado com o desejo;

3 – Ensine que desejar é diferente de ter:

Desejar é humano, saudável e necessário. Porém ter tudo ao mesmo tempo ou em excesso, torna o desejo raso e disfuncional. Uma criança que aprende a esperar e trazer significância, aprende também a apreciar, valorizar e dar o devido cuidado àquilo que conquistou.

Resgatar o valor daquilo que temos: pertencimento, vínculo e gratidão

A satisfação genuína nasce quando a criança percebe valor nas relações, nas vivências e nos objetos que fazem parte da sua vida, não apenas nos novos.

Estratégias Práticas:

  • Dê significado ao que já existe:
    •  ´Que legal você cuidar bem dos seus brinquedos!`
    • ´Esse livro já nos acompanhou por tanto tempo!`

O valor cresce quando é nomeado e sinalizado!

  • Crie rituais de cuidado: guardar, organizar, consertar, limpar e revisitar objetos fortalece o vínculo e o senso de responsabilidade sobre tudo aquilo que a criança tem. Ela aprende que existir é mais do que consumir – é sobre cuidar.
  • Promova vivências, não apenas coisas: caminhadas, cozinhar juntos, plantar e ver crescer, inventar histórias, ouvir músicas, apreciar lugares…são experiências que geram memórias afetivas positivas e sólidas que sustentam o senso de satisfação.
  • Modele a gratidão sem forçar: as crianças aprendem muito por observação! Se os adultos demonstram apreço pelas próprias conquistas e pelo que já possuem, os filhos absorvem essa postura de forma natural.

O que acontece quando o desejo encontra limites saudáveis?

Quando a criança aprende que desejar é permitido, mas que nem todo desejo é imediato, ela:

  • Desenvolve tolerância à frustração;
  • Aprende a esperar;
  • Fortalece a capacidade de planejar;
  • Valoriza mais o que consquista;
  • Ressignifica a própria relação com o consumo;
  • Encontra satisfação naquilo que tem, e não apenas no que falta;

E, aos poucos, ela entende que a satisfação não está sempre no próximo objeto, e sim na forma como se conecta com o mundo.

Portanto quando olhamos para o pedido incessante da criança como um sintoma e não como um defeito, percebemos que ela está em busca de significado. Nosso papel não é eliminar o desejo, mas ensiná-la a se relacionar com ele de forma mais profunda e saudável.

Resgatar o valor do desejo e o valor do que possuímos não é sobre negar, restringir ou punir. É sobre ensinar o tempo, o cuidado, o apreço e a presença.

É sobre permitir que a criança descubra que a verdadeira satisfação nasce muito mais do processo do que da conquista. 

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